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sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Semana Santa em solidariedade com Papa Bento XVI


Cônego Apolónio Graciano
A Semana Santa em solidariedade com o Papa Bento XVI
02 de Abril, 2010
Depois de percorrermos o longo período da Quaresma desde a Quarta-feira de Cinzas, chegamos ao ciclo mais forte da Semana que nos leva a aprofundar os mistérios da nossa salvação em Cristo. A conhecida Semana Santa que nos envolve nos mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Todos os anos desde os tempos apostólicos que os cristãos celebram com intensidade espiritual esta tradicional memória que acabou por se fixar no século IV, depois de Cristo, em quarenta dias, número muito rico de simbolismo. Recordemos que na História da Salvação, os grandes acontecimentos e os encontros decisivos do homem com Deus estão ligados a esse número, que na Bíblia exprime também a totalidade da nossa vida.
A Quaresma é assim conhecida como um período de quarenta dias de preparação para a Páscoa, que é a maior das solenidades, porque actualiza o Acontecimento culminante da História da Salvação.
E todos os anos o Papa torna pública uma Mensagem Pastoral onde convida todos os fiéis da Igreja e os homens e mulheres de boa vontade a viverem o tempo quaresmal com verdadeiro sentido de responsabilidade moral e a interpretar o Mistério de Cristo no seu viver do dia-a-dia. Para esta Quaresma o Papa Bento XVI enviou-nos uma mensagem sob o título: A Justiça de Deus está Manifestada Mediante a Fé em Jesus Cristo (Cf. Romanos 3, 21 – 22).
O Santo Padre convidou-nos a uma revisão sincera e profunda da nossa vida sempre à luz dos ensinamentos de Cristo apresentando-nos quatro pontos de reflexão: 1º a Justiça: “dare cuique suum”, isto é, dar a cada um o que é seu; 2º De onde vem a Injustiça? 3º Justiça e Sedaqah, quer dizer, a justiça como uma virtude, qualidade aceitável em favor do próximo; 4º Cristo Justiça de Deus, isto é, Deus pagou por nós no seu Filho o preço do resgate, um preço verdadeiramente exorbitante, para que fossemos salvos do pecado e da morte eterna.
Todos os cristãos como os homens e mulheres de boa vontade tiveram mais uma oportunidade de viver a riqueza espiritual da Quaresma com tudo o que cada comunidade eclesial pode viver como experiência de Fé.
Nesta Quaresma de 2010 cada um de nós pôde experimentar o seu caminhar com Cristo no calvário para a Cruz e não podemos deixar passar o que a Própria Igreja tem vindo a viver nesses tempos difíceis do seu peregrinar na terra. Como por exemplo as acusações graves contra alguns clérigos que vinham praticando a pedofilia, sem dúvida trata-se de um crime contra a dignidade humana e contra o sinal sagrado do ministério sacerdotal, como o próprio Papa Bento XVI o considerou na sua última carta dirigida a Igreja da Irlanda. Mais do que ninguém na Igreja e no mundo o Papa é a pessoa que mais sofre com tudo isso que acontece de mal no seio de algumas figuras consagradas da Igreja Católica. Na mesma carta pastoral o Santo Padre manifesta a sua dor ao afirmar que: “Todos nós estamos a sofrer como consequência dos pecados dos nossos irmãos que traíram uma ordem sagrada...”.
Esta atitude do Papa como guardião da Fé, revela a sua dedicação à Igreja de Cristo como sendo Igreja verdadeira na qual se vive continuamente a Paixão do Mestre enquanto peregrina na terra.
A Igreja Católica existe em toda parte do mundo, até em lugares mais recônditos, e na sua maioria os clérigos têm dado provas de fidelidade a Cristo. Ela hoje não se resume a meia dúzia de fiéis, ou de clérigos, e não é pelo pecado de alguns poucos que deixa de ser a Igreja verdadeira de Cristo. A Sua missão é mais nobre, tem a responsabilidade de anunciar o Evangelho da Vida a cada homem e mulher. Nunca há-de renunciar à sua vocação de ser portadora do mandato de Cristo “Ide e fazei com que todos os povos se tornem meus discípulos, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei. Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mat. 28, 19 – 20). Mesmo o que está a acontecer sobre o escândalo da Pedofilia em algumas comunidades eclesiais não retira o poder que Ela (Igreja) exerce no mundo com relação à sua colaboração
e participação no desenvolvimento humano e social, e nós em Angola somos testemunhas do trabalho positivo da Igreja em várias áreas do saber e em infra-estruturas ligadas à rede sanitária e de caridade. “A Igreja declara querer ajudar e promover todas as instituições, na medida em que isso dela dependa e seja compatível com a sua própria missão. Ela nada deseja mais ardentemente do que, servindo o bem de todos, poder desenvolver-se livremente sob qualquer regime que reconheça os direitos fundamentais da pessoa e da família e os imperativos do bem comum” (GS 42). Existe consciência clara de que a “Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação”.
A Igreja “prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e
das consolações de Deus”, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cfr. Cor. 11, 26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz”( LG 8 ).
Estamos em plena Semana Santa e no Tríduo Pascal e temos a plena consciência que o Santo Padre está a viver este tempo particular de fé e de sofrimento em harmonia e solidariedade com todos os fiéis cristãos católicos e não só, expressando diante de Deus as suas orações em favor das mais diversas vítimas de injustiças e do ódio. Temos sido testemunhas de como o Papa Bento XVI tem dirigido os seus pronunciamentos em favor das vítimas durante o tempo da Quaresma, conduzindo a Igreja a viver a sua maior vocação de anunciar a Boa Nova do Reino de Deus ao mundo. E não se pode entender esse anúncio fora daquilo que Cristo revelou em Si mesmo para santidade dos filhos e filhas de Deus. “É, pois, claro para todos, que os cristãos de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Na própria sociedade terrena esta santidade promove um modo de vida mais humano. Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que as dá Cristo, a fim de que seguindo as Suas pisadas e conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo à vontade de Deus, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao próximo. Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do Povo de Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos” (LG 40).
A Semana Santa nos ajuda a interiorizar o sentido autêntico da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, a celebração por excelência que leva o homem a sentir que a sua vida está mais inserida na pessoa concreta do Filho de Deus que veio ao mundo para fazer a vontade do Pai em salvar os seus irmãos e irmãs (Cfr. Heb. 10, 7-10).
É sabido que a Igreja é uma Instituição Humana e Divina nenhuma outra melhor que Ela em compreender a dimensão do pecado, e como Mãe e Mestra da história, coloca-nos ante o desafio da cruz do Senhor, que é símbolo de libertação do pecado, pois “Ele manifestou-Se uma vez por todas no fim dos tempos, para abolir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo...” (Heb. 9, 28). A Semana Santa é realidade viva em Cristo que se entrega pelos irmãos e irmãs, a fim de os elevar na Cruz e ressuscitar gloriosamente para reedificar em Si mesmo toda a humanidade tocada pelo seu Preciosíssimo Sangue.
É preciso compreender de verdade que o Papa é uma presença de Cristo entre nós, que nos leva a acreditar que o Cristo que ele representa é o verdadeiro Filho de Deus o “Cristo que se ofereceu de uma vez por todas, para tirar o pecado de muitos” (Cfr.Heb. 9, 26–28).
Não há outro desejo senão este de purificarmo-nos e renovarmo-nos, neste tempo, para que o sinal de Cristo brilhe mais claramente no rosto da Igreja (Cfr GS 43).

http://jornaldeangola.sapo.ao/19/46/a_semana_santa_em_solidariedade_com_o_papa_bento_xvi

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